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Entrevista – Luís Camarneiro

Diretor Produção – Figueirafish  

Qual a tua formação?
Médico veterinário

Como te transformaste num aquacultor?
Dentro da medicina veterinária sempre tive como área de interesse a produção animal, e a importância do maneio na rentabilidade final.
Com início da actividade profissional surgiu a oportunidade de integrar o projecto da FigueiraFish, no qual o meu pai é um dos proprietários, o que contribui para me mostrar este sector, nem sempre tão “badalado” quanto os outros do agroalimentar.

O melhor e o pior desta profissão?

O melhor:

  • o sentimento de fazer parte da grande comunidade que tenta alimentar 8.000.000 de pessoas
  • o contacto com a Natureza, a possibilidade de observar o(s) ecossistema(s) e todas as suas minúcias
  • o facto de ser em termos históricos um sector mais jovem do que os pares dentro da produção animal, ainda está numa fase mais precoce, com bastante “pedra para partir”

O pior:

  • se por um lado os desafios constantes são um ponto de motivação, também é desgastante as dificuldades que encontramos no acesso a equipamentos e pequenas soluções para problemas simples
  • como todos os outros sectores que envolvem animais vivos a dedicação 24/24h, 365 dias, é o maior problema para a maior parte dos produtores, e a disponibilidade em contratar colaboradores para as variadas funções nos vários turnos
  • a falta de reconhecimento por parte da sociedade do sector da aquacultura como o presente e futuro da alimentação

3 ideias para a melhorar?

  1. No caso português em particular, integrar a aquacultura no sector da produção animal como todos os outros ramos da pecuária ou agricultura vegetal.
  2. A par do que acontece em Espanha, desenvolver e colocar em prática um selo que certifique todos os produtos de aquacultura nacionais.
  3. Desenvolver campanhas de esclarecimento e orientação sobre os nossos produtos perto das entidades que colaboram com o nosso sector, entidades governamentais, distribuição e consumidores. Seria interessante desenvolver estas mesmas actividades nas próprias explorações de forma a sensibilizar para as diversas realidades de cada exploração consoante o produto alvo e método de produção.

Que dizes às pessoas sobre a aquacultura?
Difícil!
Se for alguém minimamente informado sobre aquacultura, tento passar a mensagem que é essencial consumirmos produtos produzidos por nós, e podermos sermos mais independentes dos produtos selvagens e com pouco controlo de salubridade. Muitas vezes exemplifico que como no presunto temos desde o corrente até um “pata negra”, no nosso caso em particular, no peixe também há essa diferença. Um peixe de semi-intensivo produzido de forma mais lenta, estando situados em áreas com bastante alimento natural disponível e baixas densidades de peixes são ingredientes essenciais para obter um produto final de valor acrescentado tanto a nível organoleptico como a nível nutricional. No entanto, não devemos desvalorizar os sectores intensivos que permitem produzir produtos seguros e em maiores quantidades.
Se tiver pela frente alguém menos conhecedor do que é a aquacultura a situação tem de ser menos profunda e talvez simplifico utilizando para termo de comparação todos os outros animais ou produtos de consumo. Na verdade, o último produto consumido em larga escala totalmente selvagem é o peixe capturado. Todos os outros produtos são directa ou indirectamente produzidos pelo Homem e o peixe também atingirá esse nível, normalmente é algo que as pessoas aceitam e ficam de um forma básica esclarecidas sobre a importância deste sector.

Como vês o futuro?
Como já referi, é o presente! e no futuro atingirá por mérito, ou por simples inexistência do peixe de extração, 100% do peixe consumido a nível mundial.
Portugal tem algumas particularidades, mas para uma evolução mais célere seria necessário que todos os que pensamos sobre a actividade tivéssemos a mesma noção delas. Quando aí chegarmos a aquacultura poder-se-á tornar um sector com bastante impacto no PIB nacional.
Só um exemplo, temos uma área imensa de oceano atlântico disponível, e falamos em geral muito disso, no entanto não há nem se perspectiva haver desenvolvimento nacional de tecnologia para o poder usar no sector da aquacultura. No entanto temos zonas de transição abandonadas em quantidade considerável que continuam esquecidas (e é de onde vêm uma boa parte dos produtos de valor acrescentado actualmente, peixes, bivalves e algas).

Luís Camarneiro
Diretor Produção – Figueirafish