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Homenagem Eng.º Coelho e Castro

Licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, o Engenheiro Silvicultor, António de Araújo Coelho e Castro, está envolvido no desenvolvimento da aquicultura desde 1958, quando começou a trabalhar no Centro Aquícola do Rio Ave. Foi responsável nos postos aquícolas do Estado por inúmeros trabalhos de engenharia relativos à conceção e manutenção de infraestruturas, bem como da gestão dos recursos hídricos nomeadamente, para determinação da capacidade biogénica e potencialidade piscícola das massas de água, tendo em vista a sua sustentabilidade.

O ordenamento e regulamentação da quase totalidade das reservas e concessões de pesca desportiva do nosso país, tem a sua assinatura. No auge da sua atividade, o Centro Aquícola do Rio Ave, mantinha uma rede de 12 postos aquícolas espalhados pelo país, e os seus técnicos todos os anos asseguravam o lançamento nos nossos rios e albufeiras de milhares de alevins de diversas espécies, com forte dominância da truta fario (Salmo truta fario), a nossa truta nativa.

Mas a competência e talento do Eng. Castro em atividades ligadas à prática da aquicultura, é especialmente demonstrada como empresário. Cria em 1968, em Paredes de Coura, a Truticultura do Minho, a primeira piscicultura industrial no nosso país, uma truticultura com capacidade para 600 ton/ano e de dimensão apreciável no contexto europeu, a qual ainda hoje se encontra em atividade.

Em 1984, perante as dificuldades económicas do país, a desvalorização da moeda, a instabilidade política e as restrições do Fundo Monetário Internacional (1977 e 1983 – austeridade), é “obrigado” a construir uma fábrica de alimentos compostos para peixes devido às limitações nas importações a que o país estava submetido. Estabelece a Alpis Ldª – Alimentos Compostos para Peixes. Este investimento explica também a expansão da sua atividade, adquirindo e modernizando a Quinta do Salmão – Comércio de Peixe Ldª – 1983 /1987 (ex Noraqua (norueguesa) e a Norsalmo SA – Barragem de Paradela. 1984/1988

Entretanto, a implementação das políticas macroeconómicas e estruturais e o acesso a fundos comunitários, resultado da adesão à Comunidade Económica Europeia em 1985, permitiram a estabilização nominal da economia portuguesa. Assim, perante um mercado cada vez mais complexo e global, este profissional extraordinário, defensor da inovação investe nas espécies marinhas, ou seja, eleva o grau de complexidade e compete com o investimento estrangeiro que começava a estabelecer-se no país.

O Eng. Coelho e Castro e o seu grupo estabelecem em 1993, na Estela (Póvoa de Varzim) a primeira aquacultura intensiva de pregado, integrando uma maternidade e uma área de engorda. a Piscicultura do Rio Alto, Ldª – 1993 até 2012 e compra em 2008 a um grupo norueguês a Aquamar – Aquacultura Marítima S.A (ex Timar) para produção de robalo, dourada e corvina.

Ou seja, o Eng. Coelho e Castro realizou um conjunto de investimentos num processo evolutivo consistente e com resultados práticos de justificável êxito, materializando de acordo com os manuais de gestão os três pilares do sucesso profissional: determinação, persistência e resiliência.

Acresce que, para a gestão destas novas unidades foi fundamental a seleção e formação de recursos humanos. Assim, recrutou no ensino superior e nos cursos de formação especializados e ofereceu aos seus colaboradores as condições necessárias para a efetivação de uma carreira sólida e promissora. Desenvolveu ainda uma cultura empresarial de colaboração e respeito mútuo, aquilo a que chamamos “Compartilhar a liderança do negócio”. Desde sempre o Eng. Castro franqueou as portas das suas empresas, facilitando quer visitas técnicas quer visitas de estudo onde se ficou sempre a conhecer tudo sobre o processo produtivo. Nas instalações das suas empresas recebemos sempre um valioso contributo em termos de apoio logístico e colaboração em projetos de investigação, estágios profissionalizantes, teses de mestrado e doutoramento.

É de salientar ainda a dimensão política do seu trabalho em aquicultura. Foi um forte apoiante das atividades e eventos anuais das organizações de produtores e com uma participação muito comprometida, onde deu o melhor de si e foi bastante. Para além de testemunhar sobre muitas questões controversas, defendeu a simplificação dos licenciamentos, bem como uma abordagem mais racional à governação de uma indústria que estava em expansão noutros países, mas atrasada em Portugal.

Mas, o eng. Castro também se destacou, pelo desempenho ímpar como professor no ICBAS entre 1983 a 1999, revelando capacidades naturais e inatas para dar aulas inspiradoras na licenciatura de Ciências do Meio Aquático. Lembramo-nos perfeitamente das suas aulas de Engenharia Aquática e Sistemas de Produção, sempre atuais e preenchidas de novidades.

Realmente há momentos na vida que nos marcam. A sala de aulas completa… e eu e os meus colegas ansiosos, aguardando o professor. Quando ele chegava, sempre cordial e informal, apresentava e sumariava a aula no quadro. … e depois, depois era a aula… Cada um de nós podia sentir o prazer com que o Eng. Castro se entregava ao encadear dos assuntos, e aos exemplos pensados expressamente para deter a nossa atenção. A melhor parte das suas aulas era quando compartilhava algum acontecimento da sua vida, que nos fazia refletir e simultaneamente aprender.

Muito obrigado, Eng. Castro, …

José Fernando Gonçalves
Professor ICBAS